quinta-feira, 13 de março de 2008

não esquecer...



É preciso não esquecer nada:

nem a torneira aberta nem o fogo aceso,

nem o sorriso para os infelizes,

nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta, nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome,

o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,

a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,

vigiados pelos próprios olhos severos conosco,

pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles